Fairground

Roger Salgado
2 min readJan 20, 2024

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Era minha primeira vez em terras Reais. Havia me preparado para dizer tudo que havia para ser dito e viver tudo que havia para ser vivido. Tanto havido! Pra que? Pra começar a longa despedida de minha inata misantropia; apesar de presentir que o destino próximo pudesse ser temerário e desastroso. E foi. No pub, após várias tantas Guinness, tomei coragem e subi ao palco do karaokê; eu cantei uma piada, que fez o mundo inteiro começar a chorar. Ao fim da canção percebi que o mundo inteiro sabia que a piada era sobre mim. Então comecei a chorar. O que fez o mundo inteiro começar a rir.

Oh!!! Se ao menos tivesse imaginado que o mundo inteiro sabia!

Atordoado saí a caminhar através do nevoeiro. Além de mim apenas os automóveis, centenas, se moviam e ventavam. Me sentí melhor em frente ao rio. A roda-gigante me olhou com escárnio. Pus vidros nos olhos para ter certeza. Mas certeza é o chão de um imóvel. Tive. O céu soturno sussurrou em meus ouvidos: corre.

E corri. Me mutilei pelas coisas que nunca disse e pelas coisas que deixei de viver. Na vida a gente pensa que escolhe. Tentei agarrar-me na fé, mas a Fé não Mais. Restou-me a doença e a solidão.

Até que finalmente eu morri! O que fez o mundo inteiro começar a viver.

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Roger Salgado

Talvez um dia você morra. Por precaução leia antes disto.